Um dos momentos em que uma criança sente maior felicidade é quando brinca, o nosso senso comum diz-nos isso. A proposta que aqui trazemos baseia-se neste conceito. Tendo em conta que as crianças passam grande parte dos seus dias no espaço escolar, a intenção é qualificar estes espaços e reciclar o conceito dos recreios escolares, para que as crianças se reencontrem com o prazer de brincar e sejam felizes…! Brincar e ser feliz “Há vários estudos retrospetivos muito interessantes que mostram que há uma correlação muito forte entre as crianças que foram felizes na infância e que são felizes em adultos, tendo empreendedorismo e sucesso”. Carlos Neto Nos diversos documentários sobre o mundo animal aprendemos que é durante as brincadeiras e os jogos, que as crias aprendem técnicas de sobrevivência, desde a sua interação social, com os restantes membros do seu bando, às técnicas de caça ou técnicas de fuga. Nós humanos somos iguais. É através do brincar que nos preparamos para a vida adulta. Nas imensas formas de brincar a criança explora a sua cultura, o seu papel na sociedade. O jogo, por exemplo ajuda a criança a lidar com o sentimento de frustração quando perde, algo essencial ao seu equilíbrio emocional e desenvolvimento da sua personalidade, segundo Joana Valério. Ainda segundo esta psicóloga a criança trabalha na brincadeira a sua capacidade de raciocino, criatividade, atenção e imaginação, tal como as suas interações sociais, aprendendo a partilhar, cooperar, respeitar o outro e a si própria. “A felicidade está fortemente associada a tempo passado com amigos, atividade física e tempo lúdico e de lazer.”, diz a professora Helena Águeda Marujo. Ela refere ainda que brincar ao ar livre aumenta a produção de vitamina D, essencial a um forte sistema imunitário, melhoria do humor e diminuição de estados de depressão. A escola a tempo inteiro A nossa realidade escolar tem sofrido alterações e uma delas foi o aumento do número de horas que a criança passa nesse ambiente. A criança passa mais tempo na comunidade escolar do que propriamente com a sua própria família. De uma geração para a outra a qualidade do tempo passado em família diminuiu drasticamente, trabalha-se até mais tarde, janta-se mais tarde, as lojas e supermercados fecham mais tarde e vamos buscar os nossos filhos à escola também mais tarde. Passam para segundo plano os laços afetivos entre pais e filhos e a liberdade das crianças para serem, sentirem, fazerem, sendo estas as bases, para o seu autodescobrimento e consequentemente equilíbrio emocional. O sucesso escolar é a grande prioridade, assim manda a sociedade. A criança passa o dia na escola e quando regressa a casa, muitas vezes ainda tem os trabalhos escolares a fazer ou ainda mais atividades extra curriculares. Os pais, dos dias de hoje, têm menos tempo para os seus filhos e assim as crianças são “despejadas” nas escolas. Estas por sua vez oferecem aprendizagens curriculares e extracurriculares, que em exceção à atividade desportiva, obrigam a criança a estar confinada a uma sala de aula, o dia inteiro. O dia inteiro a criança vê as mesmas quatro paredes e o seu corpo apoia-se na mesma cadeira, na mesma posição, exigindo o foco no mesmo quadro, na mesma secretária, toda a manhã e praticamente toda a tarde. Segundo Carlos Neto, em Portugal, escola e modelo de aprendizagem estão ultrapassados há muito, mas é lá que as crianças passam a maior parte do dia, fechadas dentro das salas de aula. O Recreio Quando ouvimos a campainha tocar numa escola associamos esse som a liberdade. É tempo de saír e sentir o ar fresco, rir alto, esticar as pernas, descomprimir…e brincar! Quando o tempo permite brinca-se no exterior, no recreio! Infelizmente, a realidade de muitas escolas é que estes espaços não estão dotados das condições ideais, para as crianças darem asas à imaginação, ou aprofundarem as suas interações sociais, tão imprescindíveis ao desenvolvimento pessoal e social de uma criança. De acordo com vários autores (Silva, Marques, Mata e Rosa, 2016:27) o espaço exterior é um espaço educativo pelas suas potencialidades e pelas oportunidades educativas que pode oferecer. Além disso, ainda de cordo com os mesmos autores, se o espaço exterior for planeado e organizado é possível dar continuidade e extensão às atividades e trabalhos que se realizam no espaço interior. A capacidade e êxito de aprendizagem é altamente estimulada pela diversidade de experiências e vivências lúdico-recreativas e desportivas. Segundo Carlos Neto no 1º ciclo as crianças “deveriam ter muita mobilidade, muito dispêndio de energia, muito risco, muito confronto com a natureza.” Mas ao olharmos para a grande parte dos espaços exteriores escolares, nestas idades vemos pouco ou mesmo nenhum estímulo lúdico. Não é suficiente criar apenas espaços, é necessário qualificá-los, enriquecê-los, para estimular a brincadeira, o tempo lúdico. De um modo geral, o espaço exterior nas escolas tende a ser desvalorizado. No entanto, este espaço é tanto ou mais importante que a sala de aula, devido às experiências que proporcionam às crianças. O espaço exterior é um verdadeiro potencializador, a vários níveis, para o desenvolvimento integral da criança. Promove a interação social, criança-criança, criança-adulto nas brincadeiras e nos momentos que decorrem; existe um contacto e uma exploração dos materiais existentes neste espaço; permite que a criança desenvolva atividades físicas, como correr, saltar, entre muitas outras, num espaço onde esta se encontra à vontade e livre. O espaço exterior é um local privilegiado para atividades de iniciativa das crianças que, ao brincar, têm a possibilidade de desenvolver diversas formas de interação social e de contacto e exploração de materiais naturais, mas também, correr, saltar, trepar, jogar à bola, fazer diferentes tipos de jogos num ambiente livre. Enquanto a criança aplica todo o seu foco na brincadeira e aprende a interagir, de forma lúdica com os seus pares diminui igualmente as ocasiões ou oportunidades de violência entre as mesmas. O nosso pátio escolar Local: JI e Eb1 de Abade de Neiva O espaço que as crianças do 1º ciclo têm para brincar é amplo e por isso tem potencial, no entanto é despido de qualquer estímulo lúdico, nem de material, nem de cor. Embora tenha um campo de futebol, este acaba por servir apenas a um número reduzido de alunos. O espaço exterior dirigido às crianças de idade pré-escolar necessita de mais estímulos e intervenção ao nível do pavimento. Pretendemos tornar o espaço exterior mais apelativo, seguro, estimulante e desafiador. 1.Delimitar áreas no pavimento: Criar diferentes áreas de jogo através de uma delimitação, através de diferentes texturas, materiais e cores. 2. Enriquecer o recreio com materiais estimulantes e naturais, que desafiem a imaginação da criança e contribuam para uma maior atividade física e motora, incluindo jogos clássicos integrados no pavimento, como por exemplo o jogo da macaca; 3. Contribuir para um maior estímulo sensorial e para um maior conhecimento sobre a diversidade de plantas criando um Cantinho Aromático e uma Horta Pedagógica, que podem ser incluídas em atividades curriculares. 4. Num esforço de cultivar o equilíbrio emocional e social das nossas crianças, conceber o Espaço da Serenidade. Aqui iremos implementar uma área com uma pequena fonte de água (sem lago), seixos e plantas com sombra natural. A finalidade é que as crianças se sintam mais calmas e tranquilas neste espaço, podendo realizar atividades curriculares ou não, como meditação (criando o laço com o nosso projeto Tempo dos Afetos), contos de histórias e outras atividades livres. Desta forma, pretendemos que nos tempos livres escolares, as nossas crianças se divirtam de uma forma mais feliz, criando maiores laços sociais e um maior apego ao espaço escolar. Orçamento: Fizemos um levantamento dos custos estimados para esta intervenção, através do somatório dos 3 orçamentos, que seguem em anexo. Nos custos estimados está incluído todo o trabalho desde a preparação da base até ao resultado final, de forma a garantir a maior durabilidade deste projeto. Por exemplo está contemplada a remoção das árvores situadas na envolvente dos pavimentos a intervir, porque devido ao seu porte e idade as suas raízes irão danificar os pavimentos que se pretendem aplicar, aliás já se verificam estragos, no pavimento atual. Serão substituídas por outras árvores, cujo porte e crescimento é mais adequado ao espaço. Esta é uma oportunidade única para presentearmos estas crianças e as que futuramente frequentarão este estabelecimento. Referências bibliográficas: NETO, Carlos. Crianças felizes, adultos felizes. tsf.pt, 2020. Disponível em: https://www.tsf.pt/programa/tsf-pais-e-filhos/criancas-felizes-adultos-felizes-11752853.html. Acesso em 12 de Fevereiro de 2021 NETO, Carlos. O Corpo está esquecido na escola. Publico.pt, 2020. Disponível em: https://www.publico.pt/2020/11/01/sociedade/entrevista/corpo-esquecido-escola-1937458. Acesso em 12 de Fevereiro de 2021 VALÉRIO, Joana. A importância de brincar. Psicologia.pt, 2016. Disponível em: https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?a-importancia-do-brincar-no-desenvolvimento-da-crianca&codigo=AOP0394. Acesso em 14 de Fevereiro de 2021 MARUJO, Helena A.. Crianças que se sujam a brincar são mais felizes. Observador.pt, 2016. Disponível em: https://observador.pt/2016/06/24/criancas-que-se-sujam-a-brincar-sao-mais-felizes.
Referência do Projeto:
OPB Ref. 114/21
Custo Estimado:
até 50.000 €
Proponente:
Natividade Silva